segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Ausências


A quem senão a ti direi como estou triste?
Mas se a tristeza vem de tu não estares, como ta direi, como hei-de juntar o que me está doendo ao vento que não bate mais à tua porta?
Eu sei que a tristeza é só isto, é só isto, o descoincidir consigo mesmo, eu sei, descoincidir com os outros, estava previsto porque dentro de si o mundo não coincide e não há senão tristeza.
Em cada um está Cristo sempre abandonado, cada um abandonado a si mesmo, sem princípio e sem fim,
pois no princípio o amor era dado, não ausência, nem dor, nem habitado ser por todo este absurdo.
Morrer um pouco, disse, sem saber o que dizia pois eram só palavras, como se a prometer tudo aquilo que havia e não havia.
Não haver palavras és tu a desaparecer.

(Bernardo Pinto de Almeida)



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