quarta-feira, 28 de julho de 2010

Ao acordar...


Amanheci em cólera. 
Não, não, o mundo não me agrada. 
A maioria das pessoas estão mortas e não sabem, ou estão vivas com charlatanismo. 
E o amor, em vez de dar, exige. 
E quem gosta de nós quer que sejamos alguma coisa de que eles precisam. 
Mentir dá remorso. 
E não mentir é um dom que o mundo não merece...

Clarice Lispector

domingo, 25 de julho de 2010

Asfixia


Não se sabe como acontece, nem quando. Digo o desejo, que tudo arrasta, tudo envolve num aperto que asfixia. A vontade de anular todo o intervalo entre as coisas no ardor dos corpos, no misturar das línguas.

Pedro Paixão

sábado, 24 de julho de 2010

Margot Macé

´



Ver mais aqui

O nome das coisas


Hesito muito antes da palavra.
porque um precipício se abre nela
e não tem sentido, vibra apenas.
Porque pode ser a morte
ou o nascimento para um lugar
de cores e fadas e barcos de sol.
Porque me doem as mãos
cada vez que tento segurar
o mundo em traços redondos quadrados.

Por isso te digo: hesito e morro e nasço.
E corro para a rua com a força de quem
vai anunciar, gritar, chamar, dizer.
Mas lá fora sorrio apenas
enquanto caminho para um banco
de jardim, devagarinho,
como se por um momento
eu soubesse o nome de tudo
e tudo tivesse o mesmo nome.

Vasco Gato

quinta-feira, 22 de julho de 2010

Névoa


Espero sempre por ti o dia inteiro,
Quando na praia sobe, de cinza e oiro,
O nevoeiro
E há em todas as coisas o agoiro
De uma fantástica vinda.

( Sophia de Mello Breyner )

quarta-feira, 21 de julho de 2010

Boa Noite


Este pássaro que nasceu não sei de onde,
que atravessa com o seu voo a imprecisão da minha noite,
...foi apanhado por um caçador de furtivos silêncios.
Agora, ...já não canta;
...Mas não morre;
e ouço-o debater-se dentro de mim,
quando lhe aceno com o azul,
e uma esperança de céu o obriga a sonhar.

Nuno Júdice

terça-feira, 20 de julho de 2010

Mano...



Podia abrir o coração e aqui se soltariam palavras ilegíveis, de uma língua que não existe, que ninguém perceberia, de forma a poder explicar-te a falta que me fazes...
Estes dias são desertos e áridos... Hoje, estava sentada no jardim, sozinha, olhei as árvores, olhei o céu, senti o vento balouçar-me os cabelos como que um afago...
Serias tu...?
Podia abrir o coração e sei que entenderias a minha linguagem, só tu.
És o meu eterno anjo.

segunda-feira, 19 de julho de 2010

Sad but true


Fitaram-se de olhos vazios. Ambos sentiram o mesmo. Ali estavam no largo vazio, olhando um para o outro e cada um deles sentindo a mesma angústia. Tinham a impressão de cambalear sob a tempestade, mas não se moviam. (...) O desespero abalava-os, ao mesmo tempo que uma onda de ternura os envolvia, sentimento a que não se queriam entregar, porque sabiam que se isso sucedesse, ficariam sem possibilidade de reagir. Por momentos sentiram-se perdidos.

( Erich Maria Remarque " Tempo para amar e tempo para morrer" )

domingo, 18 de julho de 2010

Just thinking


"E agora, que o tempo nos dispersa e os dias correm, um atrás do outro, sem darmos conta de que tudo é tão efémero; agora que nada nos junta mas tudo permanece para nos lembrar aquilo que ficou por dizer."

Laurinda Alves - Um dia atrás do outro

Cheiros de África...






Da Ilustradora Cathy Delanssay

sexta-feira, 16 de julho de 2010

An angel


Separo-me de ti nos solstícios de verão, diante da mesa do juiz supremo dos amantes.
Para que os juízes me possam julgar, conhecerão primeiro o amor desonesto infinito feito de marés ambulantes de espinhos nas pálpebras onde as ruas são os pontos únicos do furor erótico e onde todos os pontos únicos do amor são ruas estreitíssimas velocíssimas que se percorrem como um fio de prumo sem oscilação.

( Luisa Neto Jorge )

quarta-feira, 14 de julho de 2010

Confias no incerto amanhã?



Entregas às sombras do acaso a resposta inadiável?
Aceitas que a diurna inquietação da alma
substitua o riso claro de um corpo que te exige o prazer?
Fogem-te, por entre os dedos, os instantes;
e nos lábios dessa que amaste morre um fim de frase,
deixando a dúvida definitiva.
Um nome inútil persegue a tua memória,
para que o roubes ao sono dos sentidos.
Porém, nenhum rosto lhe dá a forma que desejarias;
e abraças a própria figura do vazio.
Então, por que esperas para sair ao encontro da vida,
do sopro quente da primavera, das margens visíveis do humano?
"Não", dizes, "nada me obrigará à renúncia de mim próprio -
 nem esse olhar que me oferece o leito profundo da sua imagem!"
Louco, ignora que o destino, por vezes,
se confunde com a brevidade do verso.

Nuno Júdice

terça-feira, 13 de julho de 2010

SIMBA

Dizem os supersticiosos que ter um gato preto dá azar.
A minha mãe, que adora gatos, arranja sempre maneira de conseguir alimentar todos os gatos que lhe aparecem à porta e, num dia de sorte, surgiu um gato preto, com ar de felino, a rondar o prato de comida. Apelidei-o de "Egípcio" pelo porte e pelo olhar.
Escusado será dizer que foi adoptado pela família. Era um brincalhão, adorava brincar com as minhas chaves do carro e eu exibia sempre uma ou outra arranhadela nas mãos, causada pela folia fervorosa que o Simba tanto gostava.
Quando entrava em casa dos meus pais ia logo à procura deste amigo que, quando cansado de tanta brincadeira, saía pelo quintal à procura de novas aventuras.

Foi ele a companhia incessante da dona e sentindo-a triste e fraca, acompanhava todos os seus passos...
Hoje morreu... Perante a nossa impotência e a nossa correria à Clínica Veterinária, nada mais havia a fazer...

Adorava-o de paixão...

Ter um gato preto só dá azar quando se gosta dele como nós gostávamos do nosso e ele morre...

segunda-feira, 12 de julho de 2010

Think of this...

"You're here one second and gone the next, so if you have something to say to someone don't hesitate to do it before its too late."


Our time is brief from Ian Berenger on Vimeo.

terça-feira, 6 de julho de 2010


Quando a dor de não estar vivendo for maior que o medo da mudança, a pessoa muda.

Freud

sábado, 3 de julho de 2010

Moments


"É preciso correr riscos, dizia ele. Só percebemos realmente o milagre da vida quando deixamos que o inesperado aconteça.

Deus dá-nos todos os dias - junto com o sol - um momento em que é possível mudar tudo o que nos deixa infelizes. Todos os dias procuramos fingir que não nos apercebemos desse momento, que ele não existe, que hoje é igual a ontem e será igual ao amanhã. Mas, quem presta atenção ao seu dia, descobre o instante mágico. Ele pode estar escondido na altura em que enfiamos a chave na porta, pela manhã, no instante de silêncio logo após o jantar, nas mil e uma coisas que nos parecem iguais. Mas esse momento existe - um momento onde toda a força das estrelas passa por nós, e que nos permite fazer milagres.

Às vezes, a felicidade é uma bênção - mas geralmente é uma conquista. O instante mágico do dia ajuda-nos a mudar, faz-nos ir em busca dos nossos sonhos. Vamos sofrer, vamos ter momentos difíceis, vamos enfrentar muitas desilusões. Mas tudo isso é passageiro e não deixa marcas. E, no futuro, podemos olhar para trás com orgulho e fé.

Mas pobre de quem teve medo de correr riscos. Porque esse talvez não se decepcione nunca, nem tenha desilusões, nem sofra como aqueles que têm um sonho a seguir. Mas quando olhar para trás - porque olhamos sempre para trás - vai ouvir o seu coração a dizer: «o que fizeste com os milagres que Deus semeou nos teus dias? O que fizeste com os talentos que o teu mestre te confiou? Enterraste-os bem fundo numa cova, porque tinhas medo de perdê-los. Então, esta é a tua herança: a certeza de que desperdiçaste a tua vida.»

Pobre daquele que escuta estas palavras. Porque então acreditará em milagres, mas os instantes mágicos da vida já terão passado."
 
In "Na margem do Rio Piedra eu sentei e chorei" de Paulo Coelho

Stand still


"Ali onde o sol nasce silencioso, inundando o mundo de uma luz púrpura e líquida, onde o mar permanece adormecido, onde a manhã se anuncia a cada dia como se fosse a primeira e onde tudo é tão perfeito e luminoso, apetece ficar para sempre. Mudos e quietos como o mar àquela hora."

In "Um dia atrás do outro" de Laurinda Alves

Dreams


"Quando se ama alguém, tem-se sempre tempo para essa pessoa. E se ela não vem ter connosco, nós esperamos. O verbo esperar torna-se tão imperativo como o verbo respirar. E aprendemos a respirar na espera, a viver nela, aperfeiçoando-nos um sonho como se fosse verdade. A vida transforma-se numa estação de comboios e o vento anuncia-nos a chegada antes do alcance do olhar. O amor na espera ensina-nos a ver o futuro, a deseja-lo, a organizar tudo para que ele seja possível. E se calhar é por tudo isso que já aprendi a esperar, confiando à vida tudo o que não sei, ou não posso escolher. É mais fácil esperar do que desistir. É mais fácil desejar do que esquecer. É mais fácil sonhar do que perder. E para quem vive a sonhar, é muito mais fácil viver."

In "Diário da tua ausência" de Margarida Rebelo Pinto


Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...