Um mar rodeia o mundo de quem está só.
É o mar sem ondas do fim do mundo.
A sua água é negra; o seu horizonte não existe.
Desenho os contornos desse mar com um lápis de névoa.
Apago, sobre a sua superfície, todos os pássaros.
Vejo-os abrigarem-se da borrasca nas grutas do litoral: as aves assustadas da solidão.
«É um mundo impenetrável», diz quem está só.
Senta-se na margem, olhando o seu caso.
Nada mais triste para além dele, até esse branco amanhecer que o obriga a lembrar-se que está vivo.
Então, espera que a maré suba, nesse mar sem marés, para tomar uma decisão.
Nuno Júdice
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