segunda-feira, 6 de setembro de 2010

O mundo do recém-nascido

ETAPAS DO DESENVOLVIMENTO PRÉ-NATAL
Tudo se inicia na concepção. Quando o óvulo se desloca do útero até à trompa de falópio, encontra-se fértil. As células espermáticas quando despejadas na vagina, percorrem o caminho até ao óvulo. A penetração do óvulo por uma única célula espermática, constitui o momento da concepção. É neste momento que a junção das duas células, dá origem ao zigoto, que é o início do desenvolvimento humano. No período do óvulo fecundado, que perdura cerca de 2 semanas, o zigoto desce pela trompa de falópio até ao útero e fixa-se à parede uterina. Quando ocorre essa ligação, inicia-se o período embrionário que é marcado pelo desenvolvimento da placenta, do cordão umbilical e da bolsa amniótica. É possível ouvir os batimentos primitivos do coração e os órgãos ficam estruturados até ao final deste período. É no período fetal que se dá a maturação e refinamento das estruturas delineadas no período embrionário. O processo do nascimento consiste na expulsão do feto pelo canal de parto e é um processo acompanhado de contracções. Podem ocorrer algumas complicações neste processo como a não dilatação da cérvix, placenta prévia (obstrução da cérvix pela placenta), o mau posicionamento do feto e anóxia (privação de oxigénio).


INFLUÊNCIA GENÉTICA / AMBIENTAL
No momento da concepção em que se forma o zigoto, herdamos 23 cromossomas femininos e 23 cromossomas masculinos que contêm genes, compostos de ADN que se combinam em cadeia para formar um único cromossoma. Esse padrão genético caracteriza-se por GENÓTIPO que herdamos dos nossos pais. Cada indivíduo nasce com um genótipo, mas este não passa de um potencial que, para se realizar, depende do meio-ambiente, dos estímulos que lhe são proporcionados enquanto cresce. Estas são as características reais demonstradas por cada indivíduo e designa-se por FENÓTIPO. Um exemplo da importância do fenótipo será termos duas crianças, com genótipos iguais (gémeos monozigóticos), e se separados à nascença, poderão apresentar dois fenótipos diferentes se, um estiver sujeito a um meio mais favorável e o outro, a um meio mais desfavorável. Pela mesma razão, dois genótipos diferentes, um melhor dotado que o outro, podem igualar os seus fenótipos, se o melhor dotado estiver sujeito a um meio desfavorável e o outro menos dotado, a um meio que lhe seja mais favorável, melhorando as suas capacidades reais.

A PRIMEIRA RESPIRAÇÃO DO BEBÉ
Quando o bebé nasce, a pressão que comprimia o seu peito desaparece. Ainda há poucos segundos, a sua boca e nariz estavam cheios de líquido amniótico ou pulmonar e ao passar pelo canal de parto, o tórax do bebé foi comprimido, o que originou a que fossem expulsos uma grande parte desses líquidos, libertando as vias respiratórias. Agora, o bebé toma um impulso e faz a sua primeira respiração – O ar penetra nos pulmões “desamarrotando” os milhares de pequenos alvéolos que aí se encontram. Os principais estímulos para que a respiração aconteça, devem-se ao elevado nível de adrenalina, ao contacto com as luzes, sons e com o ar frio da sala de partos. Começa uma nova vida para este novo ser.


BEM-VINDO AO MUNDO
Depois de ter sofrido grandes contratempos, para os quais estava, previamente “programado”, por esta máquina humana tão maravilhosa e complexa, o bebé vai, aos poucos, habituando-se ao seu novo mundo. Há que cobri-lo para evitar que arrefeça, porque ele ainda não sabe regular a sua temperatura. Ser-lhe-á cortado o cordão umbilical. Para isso, coloca-se duas pinças e corta-se entre elas, a alguns centímetros do abdómen do bebé. A parte restante do cordão umbilical que fica amarrada junto ao abdómen, cai por si própria ao fim de uma semana e ficará em seu lugar uma cicatriz vitalícia – o umbigo. Também a cor da pele começa a alterar a sua tonalidade e vai se tornando mais rosada com a oxigenação do sangue (primeiro no corpo e mais tarde nas mãos e à volta da boca).


CUIDAR DA MÃE
Agora que o bebé nasceu e que estão asseguradas as suas capacidades de sobrevivência, há que cuidar da mãe. Verificam a sua tensão arterial, a pulsação e esta retoma forças e prepara-se para expelir a placenta. Ao fim de alguns minutos, o seu útero será novamente assolado por contracções, mas desta vez, não tão dolorosas como as do parto. Por fim, termina a expulsão da placenta que tem o nome de diquitadura. A equipa médica tem que verificar se a placenta que acabou de sair está completa. Se faltar algum fragmento, por mais pequeno que seja, é necessário retirá-lo – designa-se esta operação por revisão uterina
Curiosidade: A placenta é conservada no frio e utilizada por firmas industriais para lhe ser extraída alguns derivados do sangue humano, como as gamaglobulinas.
A primeira consulta à Pediatra deve ocorrer entre o 5º e o 10º dia de vida. Esta especialista irá informar e ajudar os pais a perceber melhor o comportamento do seu filho. Irá testar as capacidades sensoriais, pedindo informações aos pais sobre os vários estádios do comportamento do bebé e sobre as suas competências sensoriais. Estas capacidades sensoriais, encontram-se agora muito mais desenvolvidas do que as suas capacidades motoras, sendo, a esta altura, completamente dependente.


REFLEXOS
Outras reacções motoras ligadas à maturação do sistema nervoso central são os reflexos, que são processos automáticos inscritos no nosso código genético que desaparecem por volta dos 6 meses, sendo substituídos por processos controlados. Curiosamente, é comum na 3ª idade desaparecerem os actos controlados, regredindo e surgindo de novo os reflexos involuntários.
Quando um bebé nasce traz consigo mais de cem reflexos. Os mais importantes são:
 Reflexo de preensão – Agarra com força qualquer coisa que lhe toque na palma da mão.
 Reflexo de sucção – O bebé reage, sugando na procura de alimento.
 Reflexo de marcha automática – Quando segurado pelas axilas, na vertical e a tocar com os pés numa superfície plana, o bebé reage movimentando as pernas como se quisesse andar ou subir escadas
 Reflexo dos pontos cardeais – É desencadeado quando se toca com o dedo na bochecha do bebé, perto do canto da boca. Ele reage virando a cabeça na procura de alimento (também conhecido como reflexo de posicionamento).
 Reflexo de moro – Consiste em deixar cair ligeiramente o bebé para trás, o que lhe provoca um sobressalto e em resposta, estica os braços para trás, fechando-os em seguida num movimento de abraço. Estica as pernas ao mesmo tempo.
 Reflexo de babinsky – Ao fazer uma ligeira pressão na planta do pé, o bebé reage dobrando os dedos com força para dentro. Conhecido também como reflexo de pressão plantar.
 Reflexo de espadachim – Chama-se espadachim porque a postura do bebé assemelha-se à de um especialista no manejo da espada. É uma postura de defesa. Consiste em virar a cabeça do bebé para um lado, ao que ele responde esticando o braço e a perna desse mesmo lado e dobrando os membros do lado oposto.
 Reflexo de engatinhar – Ao colocarmos o bebé de barriga para baixo, ele reage esticando e dobrando as pernas de forma a arrastar-se ligeiramente. Assemelha-se ao gatinhar.
 Reflexo de se endireitar – Quando seguro pelas axilas e tem os pés sobre uma superfície, reage fazendo gestos para se endireitar, estica as pernas e dobra o corpo.
 Reflexo de resposta de Galant – Ao deitar o bebé de barriga para baixo, acariciando-o no meio dacoluna de um lado, ele reage girando o tronco por completo, para esse mesmo lado.
 Reflexo palpebral – Reage ao acender de uma luz, fechando os olhos de imediato. Reflexo de engolir – Quando o bebé mama, tem a capacidade de engolir o leite de imediato.


ESTÁDIOS DE COMPORTAMENTO DO RECÉM-NASCIDO
O recém-nascido é um ser de aparência frágil, que suscita nas pessoas que o rodeiam sentimentos de protecção e afecto. No entanto, é dotado de estímulos que lhe permite receber e transmitir informação reagindo perante essa informação. Essas respostas podem variar de um recém-nascido para outro, também deferindo de uma ou outra hora do dia. Esta variação na resposta, depende do comportamento do bebé e do estádio em que se encontra.
Existem seis estádios comportamentais do recém-nascido:
• Estádio 1 – Sono profundo – Olhos fechados, respiração regular, sem movimentos.
• Estádio 2 – Sono leve – Respiração irregular, pequenos movimentos esporádicos.
• Estádio 3 – Sonolento – Olhos abertos e fechados, alternadamente.
• Estádio 4 – Vigil – Olhos abertos, sem movimentos amplos.
• Estádio 5 – Activo – Olhos abertos, com movimentos amplos, sem choro.
• Estádio 6 – Choro – Olhos abertos ou fechados, com movimentos amplos.
Cada um destes estádios pode variar de um para o outro bebé, dependendo de um ser mais calmo e o outro, ser mais instável ou inseguro. Pode observar-se num bebé mais inseguro, que quando a mãe se aproxima e o consola, poderá fazê-lo regredir, sucessivamente nos estádios, até ao primeiro.
Muitos pais podem pensar que se acudirem ao bebé, cada vez que ele chora, este acabará inevitavelmente por se tornar numa criança mimada. Segundo alguns especialistas, este pensamento é um mito que a sociedade criou. De facto, a prontidão com que uma mãe acode a um filho que chora, é determinante para a qualidade da relação entre ambos, dar-lhe-á segurança e o recém-nascido sabe com quem pode contar.

OS SENTIDOS (visão e audição).
São nos estádios 4 e 5 que podemos observar as capacidades do recém-nascido, em especial as capacidades visuais e auditivas.
No caso da visão, pode verificar-se que, desde o nascimento, o bebé consegue focar imagens à distância de 15 a 20 cm. Nesta altura, as suas pupilas reagem à luz e o reflexo de pestanejo é facilmente reconhecido. Consegue reconhecer o rosto da mãe e mais eficiente será esta habilidade, quanto mais a mãe proporcionar esse contacto de olhos nos olhos. Por tudo isto, pode concluir-se que, desde o nascimento, o recém-nascido tem uma orientação preferencial pelo rosto e olhar do adulto.
A capacidade auditiva do bebé já vem da sua gestação. Por volta das 26 semanas no útero materno, já terá tido experiências sensoriais auditivas. Desde as primeiras horas de vida que se comprova que ouve e que também é capaz de localizar um som, seguindo-o com o movimento de olhos e da cabeça. Não é de estranhar que ele reconheça a voz da mãe, que lhe é mais familiar do que qualquer outro estímulo acústico. A criança é especialmente sensível à voz humana. Ouvir a voz da mãe, especialmente a voz entoada que todas as mães tendem a adoptar com o bebé, é pacificador e tranquilizante.

CAPACIDADES SENSÓRIO-PERCEPTIVAS
 Identifica a voz materna.
 Segue objecto e face com o olhar.
 Selecciona imagens do seu campo visual.
 Vira a cabeça para o ruído ou voz.
 Imita expressões faciais.
 Identifica o cheiro do leite da sua mãe.
 Descrimina os sabores, preferindo o doce.
 Acompanha, com movimentos, o discurso do adulto.

VÍNCULO AFECTIVO
Chegaram ao fim, mais ou menos 40 semanas de ansiedade e agora tudo o que a mãe quer é descobrir o seu bebé. Esse contacto tão desejado, ocupa um lugar muito importante para criar essa intimidade única vivida entre mãe e filho.
Cada vez mais os profissionais de saúde estão cientes dos benefícios deste contacto precoce e tem-se verificado um acréscimo de humanização nas maternidades em prol desse vínculo afectivo, proporcionando uma partilha mais competente e de modo não intrusivo. Deve ser esta, uma medida a adoptar nas horas seguintes ao parto, a fim de mãe e filho, poderem desfrutar da companhia um do outro.

IMPORTÂNCIA E BENEFÍCIOS
O recém-nascido vem ao mundo com equipamentos sensoriais, motores e de comunicação perfeitamente adaptados para a sobrevivência, porém, depende da protecção, atenção e cuidados prestados pelo adulto, neste caso pela mãe. Neste sentido, advém a teoria do apego, que crê que a propensão para estabelecer tais laços, faz parte da natureza humana, estando presente no recém-nascido em forma germinal, continuando na vida adulta e velhice, quando os primeiros laços persistem e são complementados por novos. A importância do contacto físico com a mãe, o “diálogo”, a identificação recíproca entre mãe e filho, permite um despertar de respostas a estímulos sensoriais e emocionais, reflectindo-se a curto prazo na consolidação de um clima de compreensão mútua e até, inclusivamente, numa maior percentagem de sucesso no aleitamento materno (o que, por sua vez, contribui ainda mais, para a concretização desses laços afectivos).

O INÍCIO DO DISCURSO
A amamentação não é somente uma questão de satisfação da fome. A amamentação proporciona ao bebé uma sensação de alívio, de aconchego, de segurança que tanto necessita. Quando suga no seio da mãe, esta sucção faz com que se sinta aliviado e saciado.
Entre mãe e filho, há uma troca de dar e receber, através do olhar. Aqui, o bebé inicia a comunicação – mama e larga o peito, escutando a mãe, que por sua vez, lhe fala carinhosamente e ele mama de novo e escuta de novo – este é o princípio do diálogo. A cada acto de amamentar é fortalecido este vínculo afectivo, que servirá de base para o comportamento futuro do bebé. Esta segurança que o lactente encontra na amamentação, faz com que este se torne um ser humano também mais seguro.

MECANISMO BIOLÓGICO
A mãe e o filho estão biologicamente preparados para o aleitamento materno e como mamíferos que somos, esta é uma definição da nossa espécie.
A produção e a ejecção do leite estão ligadas a um complexo mecanismo neuro-hormanal em que a prolactina e a ocitocina, duas hormonas que se libertam estimuladas pela sucção do mamilo, do esvaziamento periódico da glândula e ainda de factores emocionais e afectivos. Estes dois últimos factores são muito importantes para se dar o reflexo de ejecção do leite, verificando-se uma maior eficácia nas mulheres que se sentem confiantes e serenas e menos produtivo em mulheres angustiadas e ansiosas.
Ainda antes de o bebé nascer, o corpo da mãe iniciou o processo de amamentação. A glândula mamária aumentou de volume, aumentaram o número de células secretoras e dos canais secretores (canais galactóforos) e o mamilo tornou-se maior e mais proeminente. Por volta da 28ª semana de gravidez, a mama atinge a auge do seu desenvolvimento, iniciando a segregação de pequenas quantidades de líquido, a que chamamos de colostro (líquido transparente e viscoso). Logo após o parto, termina a influência das hormonas segregadas pela placenta e aumenta a produção de colostro, pela acção da hormona prolactina, que ao ser estimulada, dá-se a chamada “subida do leite”.
“A relação mãe-filho, como primeira relação humana, constitui o paradigma de todas as relações interpessoais, servindo assim de modelo para todas aquelas que se irão estabelecer no futuro”.

Texto elaborado por Sara Sousa

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