quarta-feira, 1 de setembro de 2010

É noite


Todos os pássaros sossegaram
as crianças desceram das árvores e guardaram os jogos nas algibeiras
recolheram a casa vagarosamente
é noite
a cidade pendurou ao pescoço seus filamentos de néon
ouvem-se motores
vozes longínquas esparsas na neblina
as nuvens ainda fiam a ténue luminosidade do crepúsculo
(...)

é noite dolorosamente noite
nos ossos guardamos a essência do voo e na pele a solidão de muitos caminhos
uma estrada mais nítida tatuou-se-nos na memória 
incrustaram-se nas pálpebras da noite
brancas imagens de insónia
reparem nestas folhas de papel atiradas ao vento
estes rostos carcomidos pela humidade do desejo
estes túneis-labirintos de espelhos
esta fuga sempre recomeçada pelos alicerces calcários da cidade

Al Berto

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