segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

Pedido



Procuro o dia a cada noite que adormeço
um cheiro a terra molhada esquecido pela solidão,
atravesso o corredor cinzento do desencanto,
é apenas uma madrugada só que me abraça.

Enxugo gotas secas pela voz que não ouço,
afectos roucos trucidados no som da descrença,
prendem-se os sonhos na goma da surdez,
sinfonia não estreada por falta de compasso.

Abandono o palco defronte da plateia deserta,
sossego o maestro, o actor e o poeta.
Não se escreva, hoje, o que não pôde ser dito!
Não se encene, agora, o que não se soube exprimir!

Esqueçam-se as pautas onde a melodia se extingue!
Lá fora está escuro e só o silêncio se ouve…
Apague-se a ribalta para que não se adivinhem os passos!
Chego à janela, deixo entrar o vento e peço:

“Pousa teu olhar na minha pele…
Despe-me a saudade!”


(Poema do blogue Paços d'Água)

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